segunda-feira, 31 de julho de 2006

Sobre a Ordem de Malta

Por acaso, ao pesquisar no google, encontrei alguns post's sobre a Ordem de Malta no desNorte, na sua maioria contendo assuntos que já aqui tratei. Contudo, não quero deixar de lhes fazer referência. Por isso, e com a devida vénia ao desNorte, ficam aqui os link's: 1, 2, 3, 4, 5, 6, 7, 8, 9, 10, 11.

sábado, 29 de julho de 2006

Marcos da antiga Comenda de Rio Meão

Ontem, ao fim-da-tarde, em mais uma das minhas visitas a Rio Meão, fiz uma pequena paragem nos limites da antiga Comenda de Malta (com Paços de Brandão) para averiguar da forma como foram colocados os marcos divisórios nesta Comenda e, já agora, para tentar encontrar alguns.
Em cinco minutos, seguindo a orientação adoptada na Comenda de Rossas (Arouca), e partindo doutro que já conhecia, ou melhor, que em Rio Meão todos conhecem, encontrei mais um marco (foto abaixo). Pese embora, ligeiramente inclinado (mas favorecido pela foto), trata-se de um belo exemplar em muito bom estado de conservação e perfeitamente perceptível.
Pese embora ainda não tenha tido acesso a nenhum Auto de Demarcação de Rio Meão, com base nestes dois exemplares, é possível concluir que a primeira Demarcação foi feita entre 1629 e 1630, tal como em Rossas (Arouca), e que o método adoptado foi idêntico ao seguido naquela antiga Comenda, de onde sou natural.
Ligeiramente diferentes dos marcos existentes em Rossas, os Marcos de Rio Meão, foram esculpidos em pedras de granito duro, sendo mais toscos no acabamento (o tipo de pedra adoptado nas demarcações varia consoante a pedra existente nas imediações, podendo ser utilizadas pedras de rochas distintas mesmo dentro da mesma Comenda. De resto, tal como sucede em Rossas, onde existem mesmo hábitos esculpidos em grandes rochas que coincidiam com os limites). A cruz de Malta sobressai de um quadrado rebaixado na pedra, figurando a data de 1629 logo abaixo.
Repare-se, que por esta altura (1629), Rio Meão e Frossos (em Albergaria-a-Velha) andavam associadas a Rossas que era a cabeça de Comenda

domingo, 23 de julho de 2006

Brasão dos Privilegiados de Malta
Placa de madeira plícromada, pintada a óleo JBA.

Rio Meão na Ordem de Malta

"Do reinado de D. Sancho I, há uma doação da Igreja de "Ryo Medyão" à Ordem de Malta possivelmente dos seus primeiros bens aqui.
Depois, foi engrossando o património ao receber doação após doação de avultados bens que lhe aumentaram o poder que fez surgir conflitos com o Bispo do Porto por causa do direito de visitação destas terras, tendo cessado quando entre si acordaram que a visitação corresse pela Ordem com reserva do bispo ao direito da aposentadoria pelos fregueses sempre que ele e sua comitiva cruzassem o seu aro. Embora se volte ao assunto com mais detalhe no momento próprio, desde já deixamos ao leitor sucintas referências.
Entre todos esses bens registe-se a notável doação feita por Ordónio, Ordonho ou Ordório Peres, de tudo quanto era senhor "em Vermoym e em Rjo mejãao".
Fernão Vasques, doa a Malta os bens que possuía aqui, como outros que terão dado origem à Comenda de Rio Frio, existente já em 1256 (1218), pois nos registos da Comenda de Leça consta "o escambo que fez o Spital com a rrajnha dona Mafalda em que deu à Rainha a Bailia de Rjo mejão, em sa vida por quanto ela auia en Bouças. E pelo mosteiro de Sam Salvador. E por Vilar de Sande..." Esta a primeira memória de já estar erecta a Comenda de Rio Meão dada em prestimónio à Santa Rainha, Infanta, D. Mafalda.
Consta dos escritos da época que, se não forem resultados das más linguas, os cavaleiros da Ordem de Malta a rodeavam de mesuras e ademanes na esperança de que das mãos dela lhe adviessem grossas doações. Ainda antes do séc. XIII, a Ordem de Malta recebeu as freguesia de Maceda e Arada que passaram a depender do Comendador de Rio Meão o que acontecia ainda em 1723..."
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Homens e mulheres malparados, foliões.
"Foi ainda para nós grande escândalo que tenha havido nessa freguesia de se recolherem nela algumas mulheres e homens malparados que por se acharem culpados nos seus Bispados se abstenham para este isento para nele refugiarem seus delitos contra as disposições canónicas... e além disto costumam também... viverem dissolutos, absentando-se nas ocasiões em que podem ser punidos; e querendo subversões e desordens... ordenamos ao Reverendo Pároco... debaixo de suspensão não consinta na sua freguesia homem ou mulher alguma que vier de fora não tendo nela fazendas algumas ou outra justa causa; mas só com o desígnio de fugir à justiça e de dar exercicio à sua lascívia; e logo que souber dentro de três horas os despeje da terra condenando-os em 5 tostões pela primeira vez... e no caso de algum homem de fora vá a casa de alguma mulher de surpresa será ela também condenada da mesma pena dobrando-a conforme a contumácia, e a qualquer pessoa que (lhes) der casa ou asilo será condenada em dois mil reis...".
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Em 12.10.1778, o dito visitador Dr. Vicente Lage adverte foliões:
"Alguns moços de fora costumam andar de noite com descantes de violas e de machetes incomodando o descanso e perturbando o povo, entrando em muitas casas em que se abrem as portas e servem de escândalo aos filhos e filhas dos lavradores pelo que ordenamos ao Reverendo Pároco não consinta semelhantes destravios por serem nutritivos de pecados e maus exemplos aos filhos família; e se algum dos lavradores lhes der entrada condenará em 5 tostões...".
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As Tabernas, clérigos e outros frequentadores
Gozaram desde sempre de muito má fama e de algum proveito. Daí que contra esse, por vezes, cancro social se tivessem levantado as vozes das famílias e da igreja.
De 15.10.1738 datam estas disposições do visitador de Rio Meão:
"Grande escândalo dão às freguesias o haverem nelas vendas nas quais se dá jogo de bola e sendo a entrada em semelhantes casas de grande nota para aquelas pessoas que devem fugir delas e vivem como pede o seu estado sacerdotal o mais honrado, nobre e estimável, fui informado que algumas pessoas deste carácter não deixam de ir fazer as suas visitas nas ditas vendas e às portas delas estavam conversando publicamente com todas as pessoas que passavam pela estrada, o que é motivo feio e abominável, que é minha obrigação ordenar ao Reverendo Pároco ponha todo o cuidado em saber se os Reverendos sacerdotes vão jogar ou entram nas casas das vendas e os advirtam publicamente e não se emendando darão parte ao prelado para prover como for servido, e estes na forma do estilo advertidos. Dado em Rio Meão aos 15 de Outubro de 1738 eu o escrevi Padre António Pereira Fonseca, o visitador Francisco Ferreira da Silva, o Reitor Frei Manuel João Trindade."
in Ementa do Cruz de Malta Restaurante, Rio Meão, Santa Maria da Feira.
o desNorte, encontrado em 31.VII.2006, também se refere a este assunto.

terça-feira, 18 de julho de 2006

Personificação da Ordem de Malta
Óleo Século XVIII
Palácio das Necessidades, Lisboa

terça-feira, 11 de julho de 2006

Inimigos dos Cruzados, por Gustave Doré

Hospitalários vs Templários - VI

Em 1307, Filipe, o Belo, Rei de França, inicia o seu processo de extinção da Ordem dos Templários, apoiado pelo "seu" papa, Clemente V, o "pastor sem lei" que Dante colocou no Inferno. Filipe conhecera o poderio da Ordem quando esta lhe deu guarida ao se revoltar contra o seu pai; usando a táctica de apagar as dívidas matando os credores, conseguiu a extinção e tentou convencer todos os seus pares a fazer o mesmo. Por toda a Europa, com a Inquisição à perna, os templários são despojados dos seus bens, presos, torturados, acusados de apostasia, idolatria e de ritos satânicos entre os quais a prática de sodomia em rituais secretos de iniciação. Nas Ordenações Afonsinas, documento quatrocentista, ao condenar-se a sodomia explica-se que "por este pecado foi destruída a Ordem do Templo por toda a Cristandade em um dia". Do alto do cadafalso, o último mestre proclamou bem alto a sua inocência e profetizou que, antes de decorrido um ano, o papa e o rei estariam a prestar contas a Deus pelo sucedido, o que na realidade veio a acontecer.
O apelo papal não foi seguido logo em 1312, data da bula de extinção, por todos os reis cristãos; em Portugal, esta Ordem irá sobreviver; no nosso país de brandos costumes, logo D. Dinis, grato à sua acção e sem razão de queixa, consegue, após quatro anos de negociações com o Papa, um inteligente e diplomático artifício para a salvar criando uma nova ordem de cavalaria circunscrita ao seu Reino, de espírito e regra similares: em 1319, João XXII concede a bula que transforma esta Ordem na de Cristo, para defender o reino dos mouros, com transferência de graus, privilégios e bens, com sede em Castro Marim, na raia, transformada em casa-mãe por estar mais perto da moirama que era preciso expulsar. Só D. Pedro I, em 1357, consegue que a sede da ordem regresse a Tomar, após 36 anos de afastamento. A sua coragem permanece notória. Na sua regra, está escrito: "o cavaleiro de Cristo é um cruzado permanente empenhado num duplo combate: contra a carne e contra o sangue, contra as potências espirituais malignas nos céus. (...) Não receia nem homem nem demónio. (...) Avançai com firmeza e afastai os inimigos da Cruz de Cristo!".
A partir de 1418, é o Infante D. Henrique quem vai governar a Ordem de Cristo. Por nomeação pontifícia, torna-se também seu perpétuo administrador. O grão-mestre Vasco Fernandes e os outros cavaleiros de Cristo terão então um grande papel nos Descobrimentos, pois a sua regra é articulada de modo a poderem os cavaleiros participar nessa gesta com homens e fundos. Tal como a sua antecessora - a Ordem dos Templários - teve um grande papel na Reconquista, a Ordem de Cristo terá outro grande papel na Epopeia dos Descobrimentos, como suporte ideológico e material. A sua cruz irá então pelos mares, nas velas nacionais, a todos os continentes.
in SACADURA, João Paulo; Cunha, Rui - Património da Humanidade em Portugal - Volume I, Editorial Verbo, 2006, pág.140 e ss.
E a terra conquistada, o seu povoamento e defesa? Lançados ao mar, quem administra e protege a terra? Desse papel pouco se fala, mas a quem o desempenhou muito se deve. Falamos de uma outra Ordem, da Ordem dos Hospitalários. Mas, por ora, ficamos por aqui.

domingo, 9 de julho de 2006

Cruz da Ordem de Cristo

A cruz que normalmente vemos nas velas das Naus portuguesas do tempo dos Descobrimentos, em várias gravuras das batalhas e conquistas portuguesas, assim como na bandeira da ilha da Madeira, é a cruz da Ordem de Cristo que, em Portugal, depois de suprimida a Ordem dos Templários, foi criada por D. Dinis para suceder a esta última, evitando assim que todos os bens que lhe pertenciam fossem parar à Ordem dos Hospitalários, fazendo desta uma Ordem demasiado poderosa.
Condenação dos Templários à fogueira

Cavaleiros da Ordem do Hospital

Esta gravura, que não raras as vezes vemos associada à Ordem dos Templários (por exemplo: aqui e aqui), verdadeiramente, reporta-se à Ordem dos Hospitalários (mais tarde, de Malta). De resto, conforme se pode constatar pela cruz que ostentam.

Hospitalários vs Templários - V

Uma Cronologia sobre a Ordem dos Templários
1091 Nasce São Bernardo de Claraval.
1095 Urbano II proclama a I Cruzada.
1099 Godofredo de Bouillon toma Jerusalén.
1104 Hugo de Champagne vai pela primeira vez à Terra Santa.
1108 Hugo de Champagne vai pela segunda vez à Terra Santa.
1110 Presença de Hugues de Payns na Terra Santa.
1113 São Bernardo une-se a Cister.
1114 Terceira viagem de Hugo de Champagne à Terra Santa.
1115 Hugo de Champagne oferece terrenos à Ordem de Císter.
1118 Hugues de Payns e oito cavaleiros juntam-se com o objectivo de proteger os peregrinos na Terra Santa. Apresentação ante Balduino II.
1120 A confraria adopta o nome de "Pobres Cavaleiros de Cristo".
1124 Hugo de Champagne une-se aos templários em Jerusalém.
1128 O concilio de Troyes encarrega a São Bernardo a constituição de regras para a Ordem do Templo. De “Laude Novea Militiae " Exortação á nova milicia
1129 Data oficial da fundação da Ordem do Templo em 14 de Janeiro no concilio de Troyes.
1130 A Ordem converte-se no exército regular do reino de Jerusalém.
1136 Morre Hugues de Payns; sucede lhe Robert de Craon.
1138 Primeiro feito de armas na Terra Santa: derrota em Teqoa frente aos turcos. Os templários são exterminados.
1139 Omne datum optimum, bula do papa Inocencio II que dota a Orden de numerosos e exclusivos privilégios.
1142 Os Templários recebem a sua cruz como emblema.
1144 Proclama-se a II Cruzada.
1145 Novas bulas de Inocêncio II, Milites templi e Militia Dei, entre estes novos privilégios é lhes permitido construir castelos e oratórios próprios.
1148 Euvard des Barres, Mestre da Ordem, e os seus templários salvam o rei Luís VII no monte Kadmos.
1150 Novo Grão-mestre do Templo: Bernard de Trémelay.
1153 Eugénio III entrega-lhes a cruz vermelha sobre o hábito que se torna no distintivo da sua capa branca.
Tomada de Ascalón e morte do Mestre Bernard de Trémelay e quarenta dos seus templários.
Morre São Bernardo de Claraval.
1166 Doze templários são julgados e condenados por terem entregado uma fortaleza ao Islão.
1177 Oitenta templários participam na batalha de Montgisard, ganha a Saladino por Balduino IV, rei de Jerusalém.
1187 Proclama se a III Cruzada.
Na batalha de Hattin, cento e quarenta templários sob o comando de Gérard de Ridefort são feitos prisioneiros e executados por Saladino; Ridefort é perdoado. Saladino toma Jerusalén.1191 Os templários conquistam Chipre.
1202 Proclama se a IV Cruzada.
1215 Proclama se a V Cruzada.1219 A 5 de Novembro, heróica participação dos templários, ao lado dos cruzados de Juan de Brienne,na conquista de Damieta no delta do Nilo.
1223 Proclama se a VI Cruzada.
1231 Possivelmente os templários negoceiam em segredo com o Sultão de Damasco a devolução de Jerusalém.1244 Desastre de Forbie, em 17 de Outubro, no assedio de Gaza: de 348 templários só escapam 36. Derrotas e conflitos na Terra Santa, vitórias sem precedentes na Península Ibérica.1248 Proclama se a VII Cruzada.
1250 Em 8 de Fevereiro, Guillaume de Sonnac, Mestre da Ordem, morre na batalha de al-Mansura.
1254 Fim da sétima cruzada. Gregorio X tenta a fusão das ordens do Templo e do Hospital sem éxito ante a resistência do Mestre Jacques de Molay e do rei de Aragão.1268 Proclama se a VIII Cruzada.
1291 Caída de São João de Acre e perda definitiva da Terra Santa. Guillaume de Beaujeu morre no assédio de Acre e a elite da Ordem é aniquilada.
1294 Jacques de Molay, último Grão Mestre do Templo.
1297 O Templo empresta 2.500 libras a Felipe, O Belo.
1298 O Templo empresta 50.000 libras a Felipe, O Belo.
1301 Entrevista de Molay com Ramón Llull em Chipre.
1304 Calcula-se que a Ordem tenha 30.000 membros.
1305 Primeira denuncia contra os templários.
1307 A 13 de Outubro, detenção dos templários em toda a França. A 24 de Outubro é julgado o Mestre Jacques de Molay.
1310 Os templários julgados em Castela e Portugal são absolvidos. Em França, 54 templários são condenados a morte.
1312 A 3 de abril, a bula Vox clamantis dissolve a Ordem do Templo. Os bens são transferidos para a Ordem do Hospital. Concilio de Tarragona e absolvição dos templários catalano-aragoneses.
1314 Acaba o processo inquisitorial contra a Ordem, a 18 de Março, com a queima na fogueira do Mestre Jacques de Molay e Geoffroy de Charnay em París. Também morriam Felipe O Belo e o Papa Clemente V.

sábado, 8 de julho de 2006

Hospitalários vs Templários - IV

Considerando o clima histórico no qual nasce a Ordem do Templo, não surpreende que o papado, e em geral a sociedade cristã, tenha podido conceber a existência de uma ordem de frades habilitados para a guerra; tanto a Igreja quanto os titulares dos direitos senhoriais, expostos ao risco contínuo destas desordens sociais, viram na futura ordem religiosa a maneira de tornar institucional e permamente a experiência cruzada.
O concílio de Troyes, que abre em Janeiro de 1129 com a presença do legado apostólico Mateus d'Albano, proporciona uma óptima ocasião para se discutir sobre a constituição daquela ordem religiosa e militar; mas os problemas não são poucos nem de fácil solução. Não se trata de instituir simplesmente um corpo militar guiado por valores religiosos, é necessário encontrar o modo de dar canonicamente vida a uma ordem de frades habilitados para a guerra e para o homicídio.
Mas a sede apostólica estava a atravessar um momento extremamente delicado, em que a própria pessoa do papa estava em discussão; a proposta que chegava do longínquo Oriente, tão inovadora e tão explosiva em relação à tradição da Igreja, dificilmente poderia ter encontrado receptividade.
in BARBARA FRALE, Os Templários, Edições 70, Maio de 2005, pág. 27 e ss.

sexta-feira, 7 de julho de 2006

Peregrinos escoltados por cavaleiros do Templo avistam a cidade de Jerusalém.
Gravura do século XIX

Hospitalários vs Templários - III

Sentinelas
Após a conquista cristã a Cidade Santa foi colocada sob o comando de Godofredo, duque de Lorena, que a governou com o título de advogado do Santo Sepulcro e depois, após a sua morte, foi passado a Balduíno I que foi coroado rei pelo Patriarca de Jerusalém no dia de Natal do ano de 1100.
O Santo Sepulcro foi dotado de cónegos de confissão latina para assegurar a protecção das almas e o culto solene, os quais se juntaram ao clero de rito grego, que fora instituído na basílica de Anastácio nos séculos precedentes pelos imperadores bizantinos e nunca tinha abandonado o local, nem mesmo na fase mais dura da dominação islâmica.
Os monges de observância grega continuaram a residir na basílica e a oficiar o culto segundo a liturgia bizantina num altar a eles reservado; os clérigos latinos foram transformados em cónegos em 1114 pelo Patriarca Arnolfo de Chocques e assumiram a regra de Santo Agostinho.
Até a grande mesquita de al-Aqsa, conhecida como Cúpula da Rocha porque custodiava o bloco de pedra donde Maomé fora elevado aos céus, erigida junto às ruínas do templo de Salomão, recebeu para o culto um grupo de cónegos regulares agostinhos chamados cónegos do Templo.
Ao grupo que se ofereceu aos cónegos do Templo pertencia Hugo de Pays com alguns cavaleiros seus companheiros.
Em 1119 um terrível massacre de peregrinos junto ao Jordão abalou a sociedade cristã e o seu eco foi tão forte que chegou à Europa e recebeu particular relevo na crónica Alberto de Aix. No ano seguinte realizou-se uma importante assembleia de chefes cristãos na cidade de Nablus e os problemas defensivos do reino foram provavelmente o centro das discussões; nesse mesmo ano Balduíno II lançou um novo apelo à sociedade cristã, sublinhando que a Terra Santa necessitava de uma estrutura capaz de assegurar um serviço eficaz de policiamento.
Payns e os seus companheiros decidiran assumir um empenho religioso definitivo; segundo a crónica de Guilherme, arcebispo de Tiro, por volta de 1120 os três fizeram votos monásticos de obdiência, pobreza e castidade perante o Patriarca que lhes confiou oficialmente a missão de combater para proteger os peregrinos dos ataques dos salteadores islâmicos.
Doravante o grupo é conhecido e estimado pela população; naquele mesmo anos o conde Folques de Anjou, futuro rei de Jerusalém, vive algum tempo junto deles e antes de os deixar dá-lhes como esmola uma importante soma.
Balduíno II doou a Hugo de Payns e seus companheiros parte de um edifício usado nos primeiros tempos como palácio real, situado junto às ruínas do Templo de Salomão; os membros da irmandade passaram a ser chamados "Militia Salomonica Templi" e depois, mais tarde, Frates Templi ou Templarii.
(...)
Uma outra ordem religiosa fundada em Jerusalém alguns anos antes e votada aos cuidados a prestar aos peregrinos, o Hospital de São João, foi orientada no mesmo sentido e assumiu mais tarde uma função militar que era completamente estranha ao seu espírito originário.
in BARBARA FRALE, Os Templários, Edições 70, Maio de 2005, pág. 20 e ss.
Para saber mais:

quinta-feira, 6 de julho de 2006

O Massacre de Antioquia, por Gustave Doré (1832-1883)

Hospitalários vs Templários - II

Oh Deus, vieram os pagãos invadir a tua herança,
profanaram o teu santo templo,
reduziram Jerusalém a um monte de escombros!
lamento do Salmo LXXVIII
Em risco constante
(...)
Apesar de ocuparem grande parte do território da Palestina, os cruzados detinham o controlo de forma assaz precária e estavam constantemente expostos ao risco de agressão externa. Toda a rede viária estava constantemente infestada por salteadores que provinham de cidades egípcias, de beduínos do deserto e de refugiados muçulmanos descidos das montanhas que assaltavam os viajantes, depredando-os e massacrando-os.
As condições naturais do país não favoreciam a situação. A Palestina era uma região árida e pobre em recursos naturais, além de que o estilo de vida das gentes vindas da Europa, habituadas a uma alimentação abundante e hábitos de higiene sumários, incrementava a mortalidade, sobretudo da população infantil.
Em 1101 uma outra expedição partiu para auxiliar os débeis estados latinos da Terra Santa e nos anos imediatamente seguintes foram conseguidas importantes conquistas com a aquisição de Tripoli que, juntamente com outros territórios que continuavam em mãos islâmicas, possuía grande valor estratégico para a sobrevivência do reino, o que permitiu que as tropas cristãs de Jerusalém se reunissem às setentoriais de Edessa e Antioquia.
Não obstante estes esforços, em 1115 a situação era tal que Balduíno I foi obrigado a lançar um apelo à cristandade do Ocidente para que fosse povoar a Terra Santa.
O controlo da rede viária constituía verdadeira emergência, fosse para assegurar as portagens das caravanas mercantis que chegavam da rota oriental em direcção ao mar, ou para garantir a possibilidade de visitar os lugares santos, fulcro ideal do reino; mas as estradas representavam uma aventura arriscada: em 1102, quando Balduíno I tinha já providenciado o reforço da defesa do reino, o peregrino normando Saelwulf ficou aterrorizado pelos perigos da sua viagem, fazendo dela um relato impressionante.
in BARBARA FRALE, Os Templários, Edições 70, Maio de 2005, pág. 19 e 20.
Para saber mais:

segunda-feira, 3 de julho de 2006

Investidura de novos Cavaleiros da Ordem de Malta

No passado Sábado a vila alentejana do Crato recebeu mais uma investidura de novos Cavaleiros da Ordem Soberana e Militar de Malta. De salientar que a vila do Crato e o Mosteiro de Santa Maria de Flor da Rosa foram sede da Ordem dos Hospitalários ou de Malta, tendo sido um dos lugares mais importantes da geografia portuguesa entre os séculos XIV e o século XV.
A investidura de novos Cavaleiros é sempre uma cerimónia bonita e repleta de simbolismo, onde os novos membros da Ordem cumprem as duas premissas religiosas, essenciais desta nobre instituição: "A defesa da Fé" e o "serviço aos pobres".
Numa cerimónia presidida pelo Conde de Alburquerque (actual principal da Ordem) houve ainda lugar à Santa Missa celebrada pelo Arcebispo Emérito de Braga, D. Eurico Dias Nogueira. Esteve ainda presente Sua Alteza Real o Infante D. Henrique de Bragança, em representação da Casa Real Portuguesa.
Um dia diferente na pacata vila do Crato que viveu assim, emoções e tradições de outros tempos, fazendo lembrar o peso que aquele lugar teve, como sede da Ordem Soberena e Militar de Malta, em Portugal.
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Cavaleiros Portugueses da Ordem de Malta voltam ao Crato
A Assembleia dos Cavaleiros Portugueses da Ordem Soberana e Militar de Malta visitou no dia 24 de Junho a vila do Grato, antiga sede do Priorado, para uma cerimónia de Investidura de novos Cavaleiros, na Igreja Matriz, um acontecimento que contou com as autoridades locais, Religiosas, sendo a Missa celebrada pelo Arcebispo de Braga, D. Eurico Dias Nogueiro. O programa incluiu os seguintes eventos.
Missa e Investidura de Cavaleiros - Igreja Matriz; almoço na Pousada de Flor da Rosa; deposição de flores no Monumento a D. Nuno Álvares Pereira; visita à Casa Museu Padre Belo; inauguração da exposição “Priorado do Crato” no Museu Municipal do Crato; a partir 20.30 horas, teve lugar uma Noite Cultural na Praça do Município gerando a amizade e cooperação entre estas duas entidades. Recorde-se que o Crato e Flor da Rosa foram sede da Ordem dos Hospitalários ou de Malta, e, consequentemente, um dos lugares mais prestigiados de todo o Portugal entre o séc. XIV e o séc. XVI, deixando monumentos únicos e de uma beleza inigualável como o Mosteiro de Santa Maria de Flor da Rosa ou a Varanda do Grão-Prior.
A Ordem Soberana e Militar de Malta
A Ordem tem a sua origem num pequeno hospício fundado em Jerusalém, por volta de 1070, fruto de uma negociação estabelecida entre um grupo de comerciantes de Aroalfi (cidade perto de Nápoles), e o Califado do Egipto, de modo a albergar os peregrinos que demandavam aquelas paragens. Este hospício ficou inicialmente sob a jurisdição da Igreja Beneditina de Santa Maria Latina, com obediência à regra de São Bento. Em 1113 foi aprovada a instituição do Hospital de São João, pela Bula do Papa Pascoal II, Piae Postulationes, com a data de 15 de Fevereiro, dirigida ao Beato Gerardo (Principal Ordem).
Principal da Ordem
Em Portugal, a Ordem do Hospital de S. João marcou presença desde a fundação da nacionalidade, administrando politica e militarmente os territórios que lhe foram confiados (sobretudo no Alto Alentejo e na Beira Baixa), defendendo orgulhosamente as nossas fronteiras, contribuindo desse modo para a consolidação e afirmação da identidade nacional portuguesa.
História da Ordem em Portugal
Ao longo de nove séculos de vida, a Ordem Soberana e Militar de Malta afirmou-se no Conserto das Nações como um ente política e internacionalmente soberano, Sujeito de Direito Internacional Público, tendo por finalidade principal a de servir aqueles que sofrem e os mais carenciados, numa perspectiva Cristã e solidária, de dignificação do Homem. Nos nossos dias a Ordem tem um Embaixador acreditado, junto do governo português, é reconhecida pela ONU, UE, FAO, OMS, tendo representações diplomáticas a nível de embaixador com cerca de 100 Estados soberanos. A Ordem é uma Monarquia Constitucional chefiada por S.A.E. o Príncipe e Grão Mestre Frá Andrew Bertie, assistida pelo Soberano Conselho, e tem sede em Roma, Itália.
As Damas e Cavaleiros Portugueses integram a Assembleia
Portugueses da Ordem Soberana e Militar de Malta, Pessoa Colectiva de Utilidade Pública e Instituição Particular de Solidariedade Social, com sede em Lisboa, fundada em 1899, tendo sido o seu primeiro Presidente de Honra, El-Rei D. Carlos I - A Assembleia dos Cavaleiros Portugueses desenvolve Obras Assistenciais em prol dos mais desfavorecidos, nomeadamente na área da assistência médica e da formação, do Norte ao Sul do Pais, ao abrigo do Espírito Cristão baseado nas duas premissas “Obsequium Pauperum” e “ Tuitio Fidae”.A Cruz branca oitavada, símbolo da Ordem Soberana e Militar de Malta, é uma referência universal, de Paz, Concórdia e de Amor Cristão. in Ecclesia
recorte do Mapa das Cruzadas
Museu de Cluny,Paris
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Hospitalários vs Templários - I

A origem dos Templários e dos Hospitalários. Ambiente histórico, religioso e social.

De 1085 a 1095, um decénio de calamidades naturais e de escassez abate-se sobre a Europa, marcando o imaginário colectivo do povo e induzindo os intelectuais a acreditar que o fim dos tempos estava próximo, a recordar as antigas profecias sobre a vinda do Anticristo.
Em 1089 e 1094 duas terríveis epidemias de varicela devastaram as regiões alemãs, provocando altíssimos picos de mortalidade em Ratisbona e na Baviera. A doença causou oito mil mortos em doze semanas e alguns bispos de uma aldeia completamente cheia de cadáveres, de tal modo que não podiam entrar. A mentalidade da época estava certa de que tais flagelos tinham uma função providencial, a de impelir o povo para a penitência e para a redenção; acredita-se na sugestão do sinal que induz as massas a converterem-se, visões de cometas, eclipses, prodígios e cruzes misteriosas que e formam sobre os ombros dos que se colocaram ao serviço de Deus, para manifestar a sua eleição.
A cruzada foi um fenómeno muito complexo de fé popular que envolveu completamente a sociedade europeia atingindo gente comum e impregnando profundamente a actividade dos maiores intelectuais.
A cruzada tinha-se desenvolvido por meio de expedições diversas conduzidas por grandes senhores feudais que alcançaram a Síria – Palestina de forma independente, por via marítima ou por terra. A 15 de Julho de 1099 Jerusalém, uma das maiores fortalezas do mundo medieval, era definitivamente conquistada após um terrível cerco, não sem que alguns bandos de cruzados tenham cometido chacinas sobre a população islâmica persa, contra as disposições tomadas pelos chefes para proteger os cativos.
Por volta do ano 1100, a estrutura dos estados cristãos da Terra Santa era formada por três blocos principais cuja extensão total desenhava uma estreita faixa litoral, que não se juntava no interior: além de Jerusalém, na parte meridional da região, havia mais a norte o principado de Antioquia e o condado de Edessa.
Balduíno era o filho mais novo e ao partir para a cruzada não pudera levar consigo um séquito de guerreiros fiéis, mas devia “herdar” os do séquito do seu irmão que optaram por não regressar à Europa; o contingente de cavaleiros de que podia dispor era formado ou por homens piedosos que tinham feito voto de ficar para sempre na Terra Santa, ou de aventureiros reunidos para enriquecer, e nem uns nem outros poderiam constituir um exército suficiente e fiável.

in BARBARA FRALE, Os Templários, Edições 70, Maio de 2005, pág. 16 e ss.