quinta-feira, 12 de outubro de 2006

Contribuição Maltesa para a Arquitectura Barroca em Portugal II

Contributos de Carlo Gimach
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Carlo Gimach veio para Portugal entre 1695 e 97 e por cá esteve até 1712. Os dados que inventariaremos seguidamente provam que deve ter desempenhado um papel muito importante na nossa cultura arquitectónica.
De acordo com vários testemunhos coevos publicados por Ayres de Carvalho, Gimach veio para Portugal ao serviço do Bailio Montenegro com o propósito de fazer o projecto de ampliação de uma casa-torre medieval (a Torre de Nevões) que este cavaleiro possuía em S. Salvador do Taboado (Marco de Canavezes). Montenegro promoveu outras obras na região de Lamego, mas na Torre de Nevões não existe hoje qualquer vestígio reconhecível de obras executadas na transição do séc.XVII para o séc.XVIII. É provável que a morte de Montenegro, ocorrida em 1696, e a ruína da família (documentada por Ayres de Carvalho) tenham impedido o início efectivo dos trabalhos.
Voltamos a encontrar Gimach anos depois (em 1703) fazendo o projecto de remodelação da igreja das freiras cistercienses de Arouca, situada no arcebispado de Lamego, de grande influência da Ordem de S. João. A intervenção do projectista maltês está documentada seguramente por vários testemunhos da época publicados por Ayres de Carvalho.
Pedro Dias, que estudou o grande complexo conventual de Arouca, detectou lá três campanhas de obras «modernas»: no século XVII, entre 1704 e cerca de 1730, na metade final do século XVIII. Gimach teria intervido na segunda campanha, projectando a igreja e o grande coro das freiras.
Na nossa opinião, fez também o projecto da sala do capítulo, do claustro e de duas escadas. Os projectos não foram executados sob sua supervisão (o claustro, aliás, só foi terminado no século passado) e isso explica a interpretação «chã» feita, por exemplo, da ordem superior da igreja (em estípites inéditas na arquitectura portuguesa) ou das molduras decorativas quadrangulares das paredes correspondentes à ordem inferior. A igreja em si, de nave única, galerias laterais de comunicação (necessárias a um convento de freiras) e profundo coro aberto para a nave por um magnífico arco abatido, não é tipologicamente inovadora; apresenta-se como mais um dos muitos traços da «domesticação» a que era sujeita pela cultura arquitectónica portuguesa a intervenção de arquitectos estrangeiros - cuja acção, como sucedeu em Arouca, se fazia notar essencialmente a nível de recursos decorativos. Mas em obras menos marcadas pela tradição tipológica, a inovação podia manifestar-se; foi o que sucedeu em Arouca com duas escadas projectadas por Gimach. Voltaremos a elas adiante.
No abobadamento da nave e da grande sala do capítulo Gimach mostrou a sua mestria nos projectos para cobertura de grandes vãos. Mas tal não sucedeu apenas em Arouca.»
in "Portugal e a Ordem de Malta...", de Martim de Albuquerque, 1992, pág. 324.

domingo, 8 de outubro de 2006

Conferência divulga influência da Ordem de Malta

Tal como já havia divulgado, teve lugar na tarde de ontem, na antiga Comenda de Rio Meão, uma conferência sobre a Ordem de Malta.



quarta-feira, 4 de outubro de 2006

Conferência divulga influência da Ordem de Malta

A Cruz de Malta é um dos símbolos que identificam Rio Meão, mas cujo significado é ainda algo nebuloso para o comum dos cidadãos da freguesia. É com o objectivo de abordar a influência da Ordem Militar de Malta na história da vila, que deixou diversos vestígios, que a Junta de Freguesia local e a Câmara Municipal organizam um conjunto de iniciativas, este fim-de-semana, das quais se destaca uma conferência, no sábado, às 16h30 no auditório da Igreja de Rio Meão.
A conferência, moderada por Francisco Ribeiro da Silva, reúne vários especialistas. Paula Pinto apresentará uma “Breve História da Ordem dos Templários”; David Simões Rodrigues produzirá uma intervenção sobre “A Comenda de Rio Meão da Ordem de Malta”, enquanto António Feijó se deterá fundamentalmente sobre “As Actividades Hospitalárias da Ordem de Malta nos Dias de Hoje”.
A organização reserva para domingo outras iniciativas. Pelas 11h00, na igreja local, o bispo auxiliar de Lisboa, Carlos Azevedo, presidirá a uma missa solene, que conta com a participação do Coro da Madalena. No mesmo local, mas à tarde, tem lugar um concerto pela Orquestra Sinfónica de Jovens de Santa Maria da Feira, Escola de Música de Perosinho e Coro da Academia de Música de Viana do Castelo.

Contribuição Maltesa para a Arquitectura Barroca em Portugal

«O interesse do tema das relações artísticas entre Portugal e as «pátrias» da Ordem de S. João (Rodes e Malta, essencialmente) só de forma lenta vem sendo compreendido pelos historiadores da Arte e da Arquitectura portuguesas.
A questão foi abordada por Ayres de Carvalho no início dos anos 60 e por Robert Smith um pouco depois, mas não houve em qualquer dos dois casos uma preocupação globalizante. Ayres de Carvalho interessou-se apenas pela vida e obra de um artista maltês (Carlo Gimach) e Smith pela estadia em Malta de Nicolau Nasoni.
Mais recentemente, Rafael Moreira adiantou alguns dados inéditos sobre a presença em Portugal, no século XVI, de engenheiros militares ligados à Ordem de S. João e à ilha de Malta (Gabriel Tadino de Martinengro e Benedito da Ravenna, entre outros).
Entretanto, em Malta, Michael Ellul aprofundou a investigação sobre Carlo Gimach e divulgou algumas das suas conclusões, as quais, recortadas com os resultados da pesquisa de que nós próprios vimos procedendo sobre a obra de Gimach em Portugal, permitem já uma apreciação completamente nova do papel desempenhado por este arquitecto e artista maltês no nosso país.
Limitando o nosso campo de discussão ao século XVIII, faremos aqui um breve resumo de tudo o que se sabe das relações arquitectónicas directas entre Malta e Portugal, acrescentando, quanto a Gimach, vários dados inéditos e algumas hipóteses.
A importância para Portugal da cultura arquitectónica de Malta no período barroco começou a adivinhar-se quando, no final do século XIX, um erudito local abriu um velho armário do Mosteiro cisterciense de Arouca e descobriu curiosa inscrição feita numa das suas portas em 1718: aí se dizia que a arquitectura da igreja conventual fora reformada anos antes pelo «architecto italiano Carlo Ginac».
Cedo se determinou que o artista se chamava afinal Gimac (grafia utilizada em Portugal para o nome Gimach) e era de Malta, não de Itália.
Carlos Gimach nasceu em Malta em 1651 e faleceu em Roma em 1730. Educado nesta cidade pelos Jesuítas na década de 1670, em pleno período do Alto Barroco romano, veio para Malta pôr-se ao serviço de dois Cavaleiros portugueses da Ordem de S. João, ricos aristocratas do Douro e da Beira como muitos outros que, fixados em Malta na corte dos Grão-Mestres, patrocinaram parte da boa arquitectura maltesa dos séculos XVII e XVIII: Gaspar Carneiro (act. em Malta 1678-1696) e António Correia de Sousa Montenegro (em Malta pelo menos desde 1647, f. 1696), ambos Chanceleres da Ordem e Bailios de Leça.».
in "Portugal e a Ordem de Malta...", de Martim de Albuquerque, 1992, pág. 319 e ss.