terça-feira, 18 de setembro de 2012

Marcos de Malta em Ordem, Lousada


Deve o seu nome à existência de uma Comenda da Ordem dos Hospitalários. Guarda uma história riquíssima, ainda mal explorada, mas que pode ser participada, bastando que se calcorreie os quase desaparecidos caminhos, as veredas, as margens dos pequenos regatos, sempre na iminência da descoberta. Existe uma carta do Mosteiro de Pendorada, de doações a particulares, do mês de Maio do ano 770, que fala da fundação da Igreja de Santa Eulália, realizada depois da presúria (ocupação cristã, após retirada muçulmana deste território). Em 1216 a Igreja de Santa Eulália já se encontrava na posse da Ordem de Malta, em Leça do Balio, com a designação de "Santa Ovaya de Sousella", "Sousella de Caães" ou "Santa Olalha de Sousella". Como a Ordem tinha abundantes bens, cederam ao Bispo do Porto, D.Hugo, seis grandes casais, e ao prior de Leça, D. Martinho, e a seus sucessores, diversas igrejas, entre elas a de Santa Eulália, suprimindo ainda a obrigação do fornecimento de um jantar anual, que era incumbência do mosteiro. Segundo as Inquirições de D. Afonso III, de 16 de Maio de 1258, o Capelão Geraldo Pires informa que a igreja de "Sancte Ouaye de Sousa" era do "hospitalis" e que a Ordem a teve de testamento de D. Teresa Gonçalves, meia-irmã do Conde D. Mendo de Sousa. Em 1758, Pantaleão Machado Abreu e Silva, reitor da Igreja Paroquial de Santa Eulália da Ordem, pertencente à Religião de Malta, refere que a freguesia se situa na Província de Entre-Douro-e-Minho, Arcebispado de Braga, termo e comarca da cidade do Porto, concelho de Aguiar de Sousa. Sendo que a freguesia tem como donatário o venerando Balio de Leça.
 
Por toda a freguesia podemos encontrar os marcos de pedra com a cruz da Ordem de Malta esculpida em baixo relevo, que serviram para delimitar a Comenda de Santa Eulália que aqui existiu. O primeiro Bispo de Mariana, D. Frei Manuel da Cruz, da ordem de Cister, nasceu aqui na já demolida Casa do Carvalhal. in wikipédia.

 
Entre 2005 e 2007, o Gabinete Arqueologia e Património da Câmara Municipal de Lousada, levou a cabo um trabalho de campo com vista à inventariação do conjunto de Marcos de propriedades que outrora pertenceram à Ordem de Malta, ao Arcediagado de Meinedo, ao Mosteiro de Bustelo e à Ordem de Cristo, naquele concelho do distrito do Porto (a que se reportam as imagens aqui publicadas).
Foi assim inventariado um conjunto de 19 Marcos da Ordem de Malta, de um total que se adivinha a rondar as três dezenas, cuja função foi a de fixação dos limites da Comenda, como era prática da Ordem, e de que já aqui trouxemos vários exemplos. Os Marcos existentes na freguesia de Ordem seguem a forma habitual de paralelepípedo com a cruz oitavada em hábito aberto em circulo. Aqui, contudo, uma particularidade: logo abaixo do hábito os marcos têm uma numeração e não a data de demarcação como era mais comum. Encontram-se também alguns marcos com forma triangular, como se pode observar pela imagem supra.
Com efeito, a Ordem de Malta foi aí detentora, pelo menos desde 1216, da Igreja de Santa Eulália, sendo que em 1258, de acordo com as Inquirições de D. Afonso III, era proprietária e foreira de várias terras e casais também noutras freguesias vizinhas, como Alvarenga, Covas, Cristelos, Figueiras, Sousela, Silvares e Pias. Mais tarde, a Ordem acabou por não conservar o direito de apresentação das igrejas de Sousela, Figueiras e Covas, tendo-se mesmo verificado a divisão entre a Comenda de Santa Eulália e a Igreja de Santa Eulália da Ordem, Covas, Figueiras e Sousela. Ainda assim, desde longo período de domínio da Ordem de Malta na área da actual freguesia de Santa Eulália da Ordem, bem como em diversas zonas do concelho de Lousada, sobretudo na bacia do rio Mezio, sobram diversos vestígios materiais, de que os Marcos de propriedade da referida Comenda serão, porventura, os mais notáveis (Cfr."Marcos de Propriedade no concelho de Lousada: notas para a sua significaçãohistórico-religiosa", OPPIDUM n.º 2, 2007, pág.42).

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