domingo, 10 de março de 2013

520 Anos do Encontro de Colombo e D. João II


Terminou hoje, em Vale do Paraíso, no concelho de Azambuja, a Recriação Histórica do encontro ali realizado há 520 anos entre El-Rei D. João II e o navegador Cristóvão Colombo.
 
Um evento que se caracterizou pela apresentação de danças e cantares medievais, a realização de cortejos históricos, feira medieval, recriação da entrada real, uma conferência sobre o acontecimento, e visitas guiadas à Casa Colombo, ao Centro de Interpretação e à Igreja de Nossa Senhora do Paraíso.
Foi uma iniciativa da Junta de Freguesia de Vale do Paraíso, com o apoio do Município de Azambuja e a parceria de um vasto conjunto de entidades, e culminou com a entronização do estandarte de Cristóvão Colombo no Centro de Interpretação.

Correspondendo a um convite dirigido pelas autoridades locais, S.E. o Senhor Conde de Albuquerque e o Ex.º Senhor Dr. João Pedro de Campos Henriques, respetivamente presidente e secretário do Conselho da Assembleia dos Cavaleiros Portugueses da Ordem Soberana e Militar de Malta, participaram nestas festividades comemorativas e assistiram à celebração da Santa Missa, realizada na manhã deste domingo.

A relevância desta presença traduz-se no facto desta ser uma região historicamente importante para a Ordem de Malta, que aí deteve uma das suas mais ricas e importantes Comendas: a Comenda de Pontével, que visitamos recentemente.
Acresce que, durante a sua deslocação a Vale do Paraíso, Cristóvão Colombo terá sido alojado pelo Prior do Crato D. Diogo Fernandes de Almeida, na Casa dos Comendadores da referida Comenda da Ordem Militar do Hospital de S. João de Jerusalém. O então Prior do Crato era filho de D. Lopo de Almeida, 1º. Conde de Abrantes, amigo e parceiro de negócios de Lorenzo de Berardi, pai do banqueiro florentino de Colombo em Sevilha.
Para além do mais, D. Diogo Fernandes de Almeida era um Nobre da total confiança d’El-Rei, seu Monteiro-Mor, Alcaide-Mor de Torres Novas, aio do Governador das Ordens de Santiago e de Avis, membro do Conselho Real. Colombo sabia da importância deste Nobre.

Andam ainda algo controvertidas na historiografia as circunstâncias deste encontro de Cristóvão Colombo com El-Rei D. João II, em Vale do Paraíso, povoação doada em 1272 à Ordem de Santiago de Espada, passada posteriormente, em 1360, ao Convento das Comendadeiras de Santos-o-Novo, em Lisboa.
As teses que o sustentam e procuram fundamentar, cada vez com mais consistência, é certo, socorrem-se do Diário de Bordo do próprio Cristóvão Colombo e de uma missiva de 04 de Março de 1493, data em que terá chegado a Lisboa. O rei neste dia encontrava-se em Rio Maior, mas no dia 5 já estava em Vale do Paraíso. Estanciava por estas paragens para, alegadamente, escapar à Peste que grassava por Lisboa. Colombo só recebeu a resposta d’El-Rei 4 dias depois, quando este lhe pediu para o visitar.
"Sábado 9 de marzo- Hoy partió de Sacanben (Sacavém) para ir adonde el Rey estaba, que era el valle del Paraíso, nueve léguas de Lisboa: porque llovió no pude llegar la noche. El Rey (em Vale do Paraíso) le mandó recibir a los pincipales de su casa muy honradamente, y el Rey también les recibió con mucha honra y le hizo mucha favor y mandó sentar y habló muy bien, ofreciéndole que mandaría hacer todo lo que a los Reys de Castilla y a su servicio complise complidamente y más que por cosa suya; ". Cristóvão Colombo, Diário de Bordo.

Não sendo ainda muito pacífico se o encontro com D. João II, se deu na noite do dia 9 de março ou na manhã de domingo, dia 10, há precisamente 520 anos, é relativamente mais consensual que a jornada terá terminado com uma missa, onde ambos terão rezado, depois d'El-Rei ordenar que se desse a Colombo tudo o que ele precisasse.
"Tras haber permanecido el domingo y el lunes hasta después de misa en aquel lugar, el Almirante se despidió del rey, quien le demostró mucho afecto y le hizo muchos ofrecimientos". Hernando Colón, História del Almirante, p.178.

No dia seguinte à missa com D. João II, Colombo ter-se-á dirigido diretamente para a Azambuja, que fica a cerca de 4 km pela serra, com o objetivo de visitar a Rainha D. Leonor de Lencastre, que estava no Convento de Santo António. Daí rumou ao Sul e daqui a Espanha, terminando assim esta sua curta estadia em Portugal, após o regresso da viagem e descoberta da América.

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