quinta-feira, 25 de julho de 2013

Diocese de Beja assina protocolo de colaboração com Ordem de Malta

Objetivo é garantir o apoio aos peregrinos que passam pelo Alentejo a caminho de Santiago de Compostela e Fátima

Portugal é, desde o início da nacionalidade, um segmento privilegiado desta vasta rede cultural, que se encontra presente ao longo de quase todo o seu território continental. No Alentejo, o Caminho tem vindo a ser alvo, durante a última década, de um intenso trabalho de redescoberta por parte do Departamento do Património Histórico e Artístico da Diocese de Beja, sob a direcção de José António Falcão. Trabalho que conta com a participação de especialistas de universidades e museus portugueses, franceses, irlandeses, espanhóis e alemães e está a produzir frutos significativos, permitindo trazer à luz do dia monumentos, obras de arte e documentos de arquivo há muito esquecidos.
Definido o labor científico, torna-se agora necessário criar condições, no terreno, para a orientação e acolhimento dos peregrinos, cujo número aumentou substancialmente nos últimos anos. O Departamento do Património Histórico e Artístico vem dialogando nesse sentido com instituições que possam prestar apoio, ao nível local ou regional, a quem segue a pé, de bicicleta ou a cavalo não só para a Galiza, mas também para outros santuários, como Fátima, Vila ou Nossa Senhora de Aires (Viana do Alentejo). Esta cooperação envolve já diversas autarquias, paróquias, associações, corporações de bombeiros e confrarias, com realce para as Santas Casas da Misericórdia, que contam, entre as suas valências históricas, a ajuda aos peregrinos, uma das obras de Misericórdia corporais.
Chegou agora a ocasião de a Diocese de Beja unir os seus esforços aos de outra instituição plurissecular, a Ordem Soberana e Militar de São João do Hospital, de Rodes e de Malta. Conhecida usualmente como Ordem de Malta, esta surgiu na Palestina, no século XI, e desempenhou, a partir de então, um papel do maior relevo assistencial e militar. Actualmente, é uma organização humanitária soberana internacional, reconhecida como entidade de direito internacional. Dirige hospitais e centros de reabilitação, tendo como objectivo auxiliar os idosos, os deficientes, os refugiados, as crianças, os sem-tecto ou as vítimas de doenças terminais e lepra, actuando nos cinco continentes do mundo, sem distinção de raça ou religião. Possui mais de 12.500 membros, 80.000 voluntários permanentes e 20.000 profissionais da saúde associados, incluindo médicos, enfermeiros, auxiliares e paramédicos.
A Ordem de Malta realiza também um notável trabalho ao serviço dos peregrinos, experiência que se pretende estender a novos territórios do Alentejo, através de um protocolo de colaboração com o Departamento do Património Histórico e Artístico da Diocese de Beja, que será celebrado no dia 25 de Julho, solenidade litúrgica de Santiago Maior, na igreja matriz de Santiago do Cacém, numa cerimónia solene que decorrerá às 19h30. O local, cheio de referências jacobeias, é simbólico, já que por aqui passa um dos principais itinerários do Caminho para Compostela – alvo de crescente atenção por parte de estudiosos e peregrinos, desde que este monumento nacional foi reaberto ao público.
O acordo prevê igualmente a valorização do património espiritual e material da Ordem de Malta, que assumiu uma presença muito importante no Alentejo. De facto, esta instituição teve o seu priorado na região e um dos mais destacados priores foi D. Álvaro Gonçalves Pereira, o responsável pela edificação do paço e mosteiro da Flor da Rosa (Crato), onde terá nascido o seu filho D. Nuno Álvares Pereira, hoje São Nuno de Santa Maria. É também de referir que a preciosa relíquia do Santo Lenho, trazida da Terra Santa por Fr. Afonso Pires Farinha, ainda é venerada no mosteiro de Vera Cruz de Marmelar, cabeça de uma das mais destacadas comendas maltesas, cujo território chegava a Elvas e a Beja. Moura e Serpa são outras terras com fortes ligações à Ordem.
Vão intervir na sessão, como outorgantes deste inovador protocolo, em nome da Ordem de Malta, o presidente da Assembleia dos Cavaleiros Portugueses da Ordem, Augusto de Albuquerque de Athayde, Conde de Albuquerque, e o delegado da Ordem no Alentejo, João Fiúza da Silveira, e em nome da Diocese de Beja o vigário-geral, cónego António Domingos Pereira, e o director do Departamento do Património Histórico e Artístico, José António Falcão. in Diário do Sul

sábado, 13 de julho de 2013

Antiga Casa da Recebedoria da Ordem de Malta


Quanto, em 1834, foram extintas as Ordens Religiosas em Portugal, a Recebedoria da Ordem de Malta funcionava neste Palácio, sito na Rua de São José, no coração da atual cidade de Lisboa.
Após as obras encetadas no limiar do século XIX, este edifício, ainda hoje denominado Palácio da Ordem Soberana de Malta, funcionou como Recebedoria da Ordem e mesmo como residência de alguns dos seus membros e administradores mais destacados.
 
 
Aí residiu, por exemplo, José Guedes Pinto de Carvalho, Comendador de Rossas e Frossos, comendas sitas no distrito de Aveiro, como resulta do seguinte trecho:
«Em nome de Deos Amen Saibam quantos este Instrumento de Arrendamento fiança e Obrigaçam virem que no anno do Nascimento de Nosso Senhor Jesus Christo de mil oittocentos e dous annos aos vinte e sette do mez de Janeiro nesta Cidade de Lisboa Rua Direita de Sam Joze e Cazas de Rezidencia do Excellentissimo Comendador Joze Guedes Pinto onde eu Tabellião vim e sendo o mesmo ahi prezente de huma Parte e da outra estava Bernardo Aranha Lavrador, e morador no lugar de Urrô Freguesia de Sam Miguel do termo de Arouca Bispado de Lamego pelo Excellentissimo Commendador Joze Guedes Pinto foi ditto a mim Tabelliam prezentes as testemunhas abaixo assignadas que hé actual Commendador dos Frossos e Rossos com tudo della pertencente Dízimos fructos foros pençoens Luctuoza permissoens Sanjoaneiras Direitos de Covagem de Sepulturas e Montado de fora e todos os mais Rendimentos e Laudemios, e como tal por esta Escriptura e pella melhor forma de Direito o Excellentissimo Commendador dá de arrendamento a ditta Commenda ao seu actual Rendeiro Bernardo Aranha pello tempo de dous anos…».
Em 16 de Janeiro de 1807 a Gazeta de Lisboa fazia anunciar que «Quem quizer arrendar a Commenda de Corveira, da Ordem de Malta, na Comarca de Chaves, dirija-se à Casa da Recebedoria da mesma Ordem, na rua de S. José, todos os dias de manhã que não forem festivos.» Pouco antes, em 12 de Dezembro de 1806, o mesmo periódico anunciava que «Na Casa da Recebedoria da Ordem de Malta, na rua de S. José, há para vender 3 carruagens de quatro rodas cada huma, em bom uso.»
Ainda no mesmo periódico, mas já em 24 de Abril 1833, pode ler-se: «Arrendão-se a Baliagem, e Commendas de Lessa, e de Távora na Província do Minho; de Poyares, de Corveira, de Algoso, de S. Christóvão, e de Alvações em Trás-os-Montes; da Covilhã e de Aldeia-Velha na Beira-Alta; de Beja no Alem-Tejo; e de Torres Vedras na Estremadura, todas da Ordem de Malta, e a principiar no S. João do corrente anno de 1883: quem as pretender, poderá comparecer todos os dias de manhã, não sendo feriados, na recebedoria da mesma Ordem na rua de S. José n.º 196, aonde se farão saber as condições dos arrendamentos, ou nos locaes das ditas Comendas perante os respetivos Procuradores, authorizados para receberem os lanços offerecidos.».
Com a extinção das Ordens Religiosas perdeu-se o rumo a muito do recheio da antiga Recebedoria, «…entre o qual existiam “[...] pinturas, estampas, e diversos outros objectos litterarios, e scientificos [...]”, reunido para colocar à venda logo em 1835; venda esta que acabou por ser «…suspensa, sendo ordenado ao prefeito da Estremadura a sua recolha e posterior entrega ao Depósito das Livrarias».
Antes, porém, em 22 de Dezembro de 1834, por Portaria do Governo mandou-se apresentar um oficial da Torre do Tombo a António Nunes de Carvalho, para receber e fazer conduzir à Torre do Tombo o Cartório que se achava no edifício da extinta Recebedoria da Ordem Soberana de Malta.

sexta-feira, 5 de julho de 2013

1220.VII.05 - D. Sancho I, rei de Portugal, outorga uma carta a Rodrigo Pais, Prior da Ordem do Hospital, confirmando uma carta de D. Afonso, seu pai, [[o foro feito a dom Reimondo e a seus irmãos, que eram na terra, por remissão de seus pecados, nas era de 1178 [AD 1140], terceiro dia das kalendas de Abril. Concedeu ainda tudo o que possuissem ou viessem a possuir, e quitou e livrou os seus homens de toda a obra serviçal. E se, nas suas herdades, algum cometesse homicídio, furto ou rousso, comporia segundo sua possibilidade para a Ordem. E do que por composição pagasse, se desse a el-rei a metade, e a outra ficasse nesta herança. E do que comprassem ou vendessem não pagariam nem levada nem portagem. E que nunca aos irmãos do Hospital fossem feitas penhoras nem prendas, salvo se fosse em causa alegada perante o Prior e freires.]] E quem esta sua esmola quebrantasse, pagasse com nome de pena, 500 soldos de moeda aprovada, e [[[com dee cabo]]] restituisse e tornasse a seu dono, sendo metade para a casa de Deus, e pobres dela, e fosse maldito e excomungado e apartado do consórcio dos barões santos, perpetuamente. E outorgara esta carta com consentimento de seus cónegos, dom João, Arcebispo de Braga, dom Aires, Prior que então era, ao qual, e a seus sucessores dera licença que, com justa causa, excomungassem os que a algum freire fizesse injúria. E fosse excomungado e não fosse recebido na igreja até que a ele e a si satisfizesse. As quais cousas concedeu perpetuamente e outorgou na era de 1220 [AD 1182], aos 5 de Julho, com sua mulher e seus filhos e filhas, tendo por testemunhas muitos prelados do reino e outros senhores e oficiais maiores de sua casa, e da rainha, a qual dava por alma de seu pai e remissão de seus pecados, à honra de Deus e de S. João Baptista.
ANTT - Chancelaria de D. Manuel I, liv. 40, fl. 59